Legalismo na Bíblia: Definição, Perigos e Exemplos
Aqui está a definição simples de legalismo em um contexto religioso: é quando tratamos as leis como se fossem o meio para a salvação. Como se fossem mais importantes do que a razão pela qual existem.
Pode envolver adicionar à lei além do que a Bíblia ensina. É manter regras sem um relacionamento real com Deus. E coloca mais ênfase em nós mesmos e no que podemos fazer do que em nosso Salvador – Jesus Cristo.
Infelizmente, o termo “legalismo” pode ser mal utilizado. Por exemplo, às vezes tem sido usado para descrever qualquer compromisso com a lei de Deus. Mas esforçar-se para obedecer ou promover a obediência não é a mesma coisa que legalismo.
O legalismo surge do coração e das motivações mais do que qualquer outra coisa (1 Samuel 16:7, Provérbios 27:19, Romanos 2:29). Há uma grande diferença entre as pessoas que se preocupam com leis ou tecnicismos, e os cristãos que obedecem a Deus por amor genuíno, fé e convicção do Espírito Santo.
Por isso, é importante compreender o que a Bíblia diz sobre legalismo. Isso nos ajuda a nos proteger contra dois extremos: 1. A lei sem Jesus, e 2. A libertinagem. E nos dá sabedoria para reconhecer e confrontar o verdadeiro legalismo.
Hoje, aprenderemos como a Bíblia responde a perguntas como:
- O que é legalismo?
- Quais são os exemplos bíblicos de legalismo?
- Como o legalismo contrasta com a graça?
- Quais são os perigos do legalismo?
- Como se manifestam as práticas legalistas nas igrejas hoje?
- Toda obediência é legalismo?
- A ilegalidade é um perigo?
- Por que o legalismo acontece?
- Como podemos evitar o legalismo?
Vamos começar aprofundando na definição de legalismo.
A definição de legalismo

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O dicionário Cambridge define legalismo como,
“A prática de seguir a lei de forma muito próxima, especialmente prestando mais atenção às regras e detalhes do que às intenções por trás delas.1
Curiosidade interessante: A palavra “legalismo” não aparece na Bíblia. Nem uma única vez. Isso ocorre porque o termo não era utilizado pelos cristãos até o século XVI. No entanto, a Bíblia abordou esse conceito muito antes de ter um nome formal.2
Por exemplo, Paulo aborda o legalismo em Gálatas 2:14. Ele diz aos líderes da igreja primitiva para pararem de impor leis e padrões obsoletos aos novos cristãos.
As leis morais e cerimoniais judaicas deixaram de se aplicar após a morte de Cristo (Efésios 2:14-15). Portanto, continuar a aplicá-las acrescentava fardos sem sentido sobre o povo. É um pouco como pedir a alguém para trazer ração para cavalo para o celeiro todas as manhãs, mesmo depois que o cavalo se foi, apenas porque ainda está na lista de verificação do dono da fazenda.
- Vamos analisar alguns aspectos-chave do legalismo, de acordo com a Bíblia:
- Enfatizar esforços pessoais em detrimento de um relacionamento com Jesus (Mateus 7:21-23; Efésios 2:8-9)
- Valorizar leis em vez de amor a Deus e ao próximo (Mateus 22:37-40; Marcos 7:6-7; João 13:34)
- Obediência sem amor ou fé sincera (Oséias 6:6; Salmo 78:36-37; 1 Samuel 15:22; Romanos 5:1)
- Preocupar-se com detalhes pequenos enquanto se perde o que realmente importa (Mateus 23:23-24)
- Depender de regras e boas obras para a salvação, e não de Jesus como nosso Salvador (Gálatas 2:16)
- Preferir regras e tradições humanas em vez de leis bíblicas (Marcos 7:8-9)
- Realizar boas obras para ser admirado pelos outros (Mateus 23:5-6)
- Tentar parecer perfeito, mas sem ter uma fé ativa (Mateus 23:27-28)
- Acrescentar fardos desnecessários ao plano de salvação (Atos 15:10-11)
Manter os mandamentos de Deus não é ruim. Na verdade, Jesus diz: “Se me amais, guardai os meus mandamentos” (João 14:15, ACF). Mas a verdadeira obediência a Deus vem do amor e compreensão do Seu caráter (João 14:23-24).
O legalismo surge ao tentar obedecer à lei de Deus sem compreender o Seu amor e graça – os quais Suas leis são destinadas a promover.
É a mentalidade de que, ao obedecer às leis de Deus ao pé da letra, de alguma forma podemos ganhar nosso lugar no céu. E acabamos tentando depender de nós mesmos em vez de depender de Jesus — que Deus enviou para nos salvar.
Para termos uma ideia melhor de como isso se parece, vamos falar sobre algumas pessoas na Bíblia que lutaram com o legalismo.
Exemplos de Legalismo na Bíblia
Quando se trata de legalistas na Bíblia, os fariseus frequentemente vêm à mente. Mas outros que lutaram com o legalismo incluem:
- Paulo (antes de sua conversão)
- O irmão mais velho do Filho Pródigo na parábola de Jesus
- Os fariseus (além dos saduceus, escribas e advogados)
Vamos começar olhando para Paulo.
O apóstolo Paulo: o legalista reformado
Paulo (também conhecido como Saulo) discute extensivamente o conceito de legalismo nos livros e cartas que escreveu no Novo Testamento. E isso faz sentido — ele conhecia os perigos do legalismo melhor do que a maioria (Atos 8:1-3).
Antes de conhecer Jesus, Paulo era apaixonado por proteger a lei judaica em nome de Deus. Mas estava no espírito errado e enviou inúmeros cristãos para a morte.
No entanto, quando ele conheceu Jesus, percebeu que seus esforços legalistas eram inúteis. Ele começou a confiar na graça de Deus em vez de em seus próprios esforços:
“E disse-me: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, me gloriarei nas minhas fraquezas, para que em mim habite o poder de Cristo.” (2 Coríntios 12:9, ACF)
O irmão mais velho do Filho Pródigo: O legalista com quem podemos nos identificar

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A seguir, vamos falar sobre o irmão mais velho na parábola de Jesus conhecida como “O Filho Pródigo”. Jesus descreve um jovem desgarrado que deixa a casa, vive de forma imprudente, perde tudo e percebe o erro de seus caminhos. Ele retorna para casa com a intenção de se tornar um servo, mas seu pai o recebe de braços abertos (Lucas 15:11-24). O pai representa Deus — e é uma bela representação do Seu amor por cada ser humano, não importando suas circunstâncias.
Mas Jesus não parou aí em Sua história. Ele continuou descrevendo o irmão mais velho, aquele que sempre foi fiel e nunca havia deixado o lado de seu pai. O filho mais velho ficou irado com o pai por celebrar abertamente o retorno de seu irmão mais novo, embora ele tivesse sido tão egoísta e desrespeitoso (Lucas 15:25-32).
Seu pai diz ao seu filho mais velho,
“E ele lhe disse: Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas;
³² Mas era justo alegrarmo-nos e folgarmos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se perdido, e achou-se.” (Lucas 15:31-32, ACF).
O filho mais velho representa os cristãos que fazem tudo o que devem fazer e acham deprimente ver outros que não são tão obedientes recebendo amor e reconhecimento. Na história, o filho mais velho até perguntou ao pai por que não tinha sido celebrado por ser tão obediente.
“E saindo o seu pai, rogava-lhe que entrasse com ele. Mas, respondendo ele, disse ao pai: Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu mandamento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com os meus amigos;
³⁰ Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou os teus bens com as meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado.” (Lucas 15:29,30, ACF)
Jesus usa o caráter do irmão mais velho para expor esse aspecto do legalismo. É a crença de que a obediência meticulosa ou cometer menos erros é o que constitui o valor próprio de uma pessoa e conquista mais do amor e misericórdia de Deus. Isso pode até levar a pensar que algumas pessoas não merecem a salvação.
Mas sabemos que Deus ama todos os seus filhos da mesma forma. Ele anseia que todos venham a Ele e aceitem a salvação (João 3:17).
Legalistas tendem a impor um limite à graça e ao perdão de Deus (sobre o que falaremos mais tarde). O pai concedeu graça ao filho, que voltou humildemente em busca de perdão. Mas o irmão mais velho sentiu que o “filho pródigo” deveria ter que conquistar seu caminho de volta para o favor de seu pai.
Fariseus: Os legalistas clássicos
Agora, para o último dos legalistas que vamos falar hoje: os fariseus. Jesus os confrontou (juntamente com alguns escribas e advogados) sobre seus traços legalistas. Ele disse que eles:
- Mostravam-se perfeitos por fora, mas eram corruptos por dentro (Lucas 11:39-40)
- Obsessão por pequenos detalhes, ignorando a justiça e o amor (Lucas 11:42)
- Acrescentavam fardos desnecessários aos novos cristãos (Lucas 11:46)
- Deturpavam as Escrituras, levando outros ao erro (Lucas 11:52)
- Faltavam de humildade e achavam-se superiores aos outros (Lucas 11:43; Lucas 18:9-14)
- Preocupavam-se mais com a lei do que com o próximo (Mateus 9:12-14)
- Valorizavam mais as adições feitas pelos homens à lei do que a lei de Deus (Mateus 15:1-9)
- Guardavam a lei de Deus em vão, pois não amavam a Deus (Mateus 15:8-9)
Mas um escriba se destacou do grupo quando ele disse,
“E que amá-lo de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios. E Jesus, vendo que havia respondido sabiamente, disse-lhe: Não estás longe do reino de Deus. E já ninguém ousava perguntar-lhe mais nada.’” (Marcos 12:33-34, ACF).
Os amigos legalistas do escriba estavam cumprindo a lei, mas faltava um ingrediente-chave — o amor. E a Bíblia diz que o amor é o fundamento inteiro da lei de Deus (Romanos 13:8-10).
Imagine um marido e uma esposa que estão casados há doze anos. Quando o marido chega em casa do trabalho, ele pega uma lista de verificação que diz: “Beijar a esposa”. Então ele lhe dá um beijo rápido, pega uma caneta e marca na sua lista diária. Em seguida, ele lê o próximo item, que diz: “Perguntar como foi o dia dela”, então ele pergunta. E enquanto ela responde, ele assente enquanto marca: “Assentir para mostrar que estou ouvindo”. E o mesmo vale para todas as suas “obrigações” como marido.
Esse exemplo pode parecer extremo. Mas é assim que o legalismo transforma um relacionamento amoroso ou um conjunto de crenças profundas em algo que parece mais concreto e controlável. Aqueles que operam sob esse legalismo parecem comprometidos e fazem todas as coisas “certas”, mas não há interesse real ou amor por trás dos atos. Eles estão simplesmente cumprindo as formalidades.
Atos bondosos e deveres constroem relacionamentos duradouros quando vêm de corações sinceros. Mas quando são reduzidos a uma lista de afazeres, esses atos se tornam vazios, tristes e sem sentido.
Legalismo vs. a graça de Deus
Legalistas colocam um limite à graça e perdão de Deus. E isso pode nos fazer pensar que precisamos trabalhar para reconquistar o favor de Deus quando erramos. Ou manter Jesus à distância enquanto tentamos consertar a nós mesmos.
Mas graça significa que podemos ir a Jesus como estamos, aceitar Seu presente gratuito de salvação e deixar Ele nos fazer crescer. E se errarmos (o que todos fazemos), podemos recorrer a Ele para encorajamento e restauração.
A Bíblia diz que é impossível nos salvarmos — apenas Jesus pode fazer isso (Romanos 3:20, 8:1-3; 2 Coríntios 5:14-17). Portanto, sem aceitar a graça de Jesus, nossas boas obras se tornam “obras mortas” (Hebreus 9:14, ACF).
A graça é um presente já conquistado para nós por Jesus (Romanos 1:4-6; Romanos 5:15-21). Não precisamos ganhar algo que Jesus já conquistou para nós. Por isso, a Bíblia diz que podemos “aproximar-nos do trono da graça com confiança” (Hebreus 4:16, ACF).
Jesus viveu uma vida perfeita por nós porque Ele nos ama e sabia que não poderíamos fazê-lo por conta própria (Romanos 3:23-24, Romanos 5:8, Tito 3:4-7). Deixar de lado o legalismo significa admitir que não podemos nos salvar (Romanos 7:18, 24-25). Em vez disso, podemos aceitar a graça de Deus e receber Seu Espírito Santo (João 3:3, 6).
Mas isso não significa que ignoramos a lei, paramos de obedecer e esquecemos as boas obras (Mateus 5:19). Isso é o que alguns chamam de “graça barata”.3 Porque isso desvaloriza a graça de Deus. É “uma negação do verdadeiro efeito da graça de Deus”.4 A Bíblia diz que quando aceitamos a graça, desejamos fazer boas obras e obedecer aos mandamentos de Deus (Gálatas 2:20).
Paulo explica os efeitos da graça (que ele mesmo experimentou):
“Porque a graça salvadora de Deus se há manifestado a todos os homens, Ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, e justa, e piamente, Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo; O qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras.” (Tito 2:11-14, ACF).
Quando aceitamos a graça de Deus, Ele nos ajuda a crescer mais semelhantes a Jesus (2 Coríntios 9:8, 2 Pedro 1:4-8). Então obedecemos e realizamos boas obras a partir de um coração grato. Isso vem de olhar para Jesus em vez de para nós mesmos (Tiago 2:14-26; 2 Coríntios 3:18, Jeremias 31:33, Salmo 119:66-73).
Isso não significa que não continuaremos a lutar. Mas quando o fazemos, sabemos que podemos ir imediatamente a Jesus em busca de perdão e orientação (1 João 1:8-9, Judas 24).
Abraão é um sólido exemplo bíblico do tipo de obediência que decorre da recepção da graça. Deus o chamou de justo — não por causa de boas obras, mas por causa de sua fé (Gênesis 15:6; Romanos 4:1-8). Sim, ele obedeceu quando Deus pediu que sacrificasse Isaque. Não porque ele era legalista, mas porque tinha um relacionamento de confiança com Deus (Hebreus 11:17-19).
Aqui está a questão central. Cristãos que aceitam a graça ganham “uma paixão pela justiça, uma paixão pela obediência à vontade revelada de Deus tanto no Antigo quanto no Novo
Testamento, não por causa da pressão da lei, mas por causa desse novo relacionamento com Cristo (Romanos 7:6).”5
A obediência sem receber a graça é um perigo do legalismo. Aqui estão mais alguns.
12 perigos do legalismo
Já aprendemos que o legalismo pode nos fazer olhar para nossos próprios esforços em vez de confiar em Jesus e Sua graça (Gálatas 2:16-21). Mas também é perigoso porque muitas vezes surge de um processo psicológico interno. O que também torna difícil detectá-lo até que se espalhe. Ele se baseia em manter os mandamentos de Deus – o que é bíblico – mas no espírito errado. Por isso, é uma perigosa falsificação do Evangelho de Cristo. Pode ser uma arma do diabo.
Aqui está como a Bíblia fala sobre 12 prejuízos pessoais e espirituais que resultam do legalismo:
1. Falta de autoconsciência. Existe o perigo de pensar que a estrita observância da lei é “suficiente”. Assim, os legalistas podem não sentir a necessidade de crescimento espiritual ou introspecção (Eclesiastes 7:16-18, Mateus 19:16-22).
2. Tornar a salvação inatingível. Isso nos pressiona a nos tornarmos perfeitos em vez de confiarmos em Cristo (Filipenses 2:13). Assim, pode fazer com que a salvação pareça impossível.
3. Autojustiça. Enfatizar o que podemos fazer em vez do que Jesus fez pode nos levar a nos comparar com os outros. Assim, nos tornamos juízes em lugar de Jesus (Lucas 18:9-14, Romanos 12:3, Habacuque 2:4).
4. Visão distorcida de Deus. Os legalistas frequentemente possuem muito conhecimento sobre Deus. Mas eles carecem de um relacionamento pessoal com Ele (João 5:39, Marcos 7:6-7). Sem um relacionamento, nos falta a motivação correta para começar com as leis. Elas se tornam como o exemplo fictício da lista de verificação de casamento mencionado anteriormente, que retrata Deus como alguém a ser apaziguado, ao invés do amoroso Deus que Ele é (1 João 4:8).
5. Fardos desnecessários. Podemos ter tradições saudáveis ou regras criadas por humanos bem-intencionadas e eficazes. Mas é perigoso quando as tratamos como doutrina bíblica, pois isso desvia o foco do que realmente importa (Colossenses 2:20-23, Gálatas 3:1-3). O amor e a convicção devem vir primeiro, caso contrário as leis se tornam apenas tarefas ou rituais sem o contexto e missão mais profundos. Isso pode fazer com que se aproximar de Deus pareça exaustivo, enquanto a Bíblia diz o contrário (Mateus 11:28-30).
6. Visão distorcida da vida cristã. Jesus veio para que possamos “ter vida e tê-la em abundância” (João 10:10, NVI). Como aprendemos, o legalismo adiciona fardos desnecessários aos cristãos. Assim, pode fazer com que a vida cristã pareça miserável. E pinta uma imagem distorcida da vida que Deus deseja para Seus filhos (Romanos 7:22).
7. Mal-entendimento do propósito das leis. O legalismo vê as leis como a solução para o pecado. Mas as leis não podem corrigir o pecado – elas apenas revelam nossos pecados e nossa necessidade do Salvador (Romanos 3:21-26, 5:13).
8. Hipocrisia. O legalismo nos leva a manter aparências perfeitas e professar amor a Deus. Mas sem um coração totalmente comprometido com Ele (Isaías 29:13, Marcos 7:20-23, Lucas 20:46-47). Assim, parecemos de um jeito e agimos de outro (Mateus 15:18-19), o que faz os cristãos parecerem falsos e não confiáveis para os outros.
9. Perder a visão geral. Há o perigo de nos concentrarmos nos detalhes minuciosos e perdermos o que Deus está tentando nos ensinar. Podemos ser rigorosos na observância da lei, mas nunca desenvolver um caráter semelhante ao de Cristo (Lucas 11:42). Assim, perdemos todo o sentido!
10. Guarda da lei sem amor. Onde não há graça ou amor para estabelecer a base, obedecemos para sair na frente e nos salvar. Então, nos falta amor altruísta e o desejo de ajudar os outros e refletir o caráter de Cristo (Mateus 12:9-14, Lucas 10:25-28, Filipenses 2:3).
11. Apropriando-se da glória de Deus: Boas obras feitas a partir de um espírito transformado dão glória a Deus. Mas obras legalistas (como tentar ganhar a salvação) chamam a atenção para nós mesmos (João 7:18).
12. Maior perigo – perder uma relação salvadora com Deus: O legalismo visa depender de si mesmo em vez de Jesus. Mas Deus diz que a vida eterna só vem através de Jesus (1 João 5:11-13, Romanos 8:1-3).
Portanto, como detectamos o legalismo ao nosso redor? Vamos falar sobre isso a seguir.
Práticas legalistas a serem observadas

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O legalismo pode se infiltrar em praticamente qualquer coisa que tenha diretrizes, regras, expectativas, etc. Então, como podemos saber se uma comunidade cristã está cheia do Espírito Santo, ou promovendo um espírito de legalismo? Bem, isso pode envolver fazer a nós mesmos perguntas com base no que aprendemos sobre legalismo até agora. Por exemplo, a comunidade é geralmente:
- Alegre?
- Amoroso?
- Unido?
- Encorajador?
- Pronto para perdoar?
- Inclusivo e acolhedor?
- Não focado em aspectos externos?
- Focado em um relacionamento com Jesus?
- Em conformidade com a lei de Deus, mas não dependendo dela?
- Experimentando crescimento espiritual entre os membros?
- Promovendo serviço aos outros por amor, não como uma regra?
- Comprometido com a Bíblia (tanto o Antigo Testamento quanto o Novo) como a Palavra de Deus?
Não importa quão grandiosos ou simples sejam os membros, programas ou ministérios de uma igreja, eles sempre devem apontar o caminho para Jesus. As igrejas precisam enfatizar a dependência de Jesus e de sua justiça (Romanos 10:2-4). Mesmo cristãos apaixonados podem se tornar legalistas se o foco se tornar sobre esforços pessoais. Se esse for o caso, podemos seguir o exemplo de Paulo e orar por amor (Romanos 10:1).
Também vemos o legalismo em níveis individuais. Por exemplo, se um membro da igreja diz a um recém-chegado que ele não está vestido adequadamente para a igreja. Essa forma de legalismo decorre da elevação da tradição humana sobre o amor a Deus e aos Seus filhos. E por não reconhecer que precisamos permitir que as pessoas venham a Cristo como são (assim como na parábola do Filho Pródigo). Então Cristo pode entrar e fazer a diferença que realmente importa.
E se o Espírito Santo nos convencer a confrontar um membro legalista da igreja? A Bíblia diz para orarmos por ajuda para fazê-lo com gentileza (Gálatas 6:1).
Quando se trata de detectar o legalismo nos colegas, a Bíblia adverte contra julgar os outros (Mateus 7:1, Romanos 14:1-4, 13, 22). Mas também somos orientados a “testar os espíritos” dos líderes espirituais (1 João 4:1, ACF). Os líderes podem ter grande influência sobre nós e nossos entes queridos.
E se suspeitarmos que um líder está dando exemplo de legalismo? A Bíblia nos diz para usar discernimento e prestar atenção em como vivem (Mateus 7:15-19; Gálatas 5:19-24). Paulo até disse que se alguns líderes parecem piedosos, mas carecem do poder do Espírito Santo, devemos “evitar tais pessoas” (2 Timóteo 3:5, ACF).
Nenhuma igreja, líder ou sistema de crenças deve colocar obstáculos entre uma pessoa e Jesus. Assim como o pai na parábola do Filho Pródigo, Jesus nos recebe de braços abertos. Deus não nos pede para passar por nenhum ritual feito por humanos para receber perdão ou salvação.
E quanto ao batismo? Sabemos que é bíblico — até Jesus foi batizado. Mas a falta de batismo não impediu Jesus de prometer salvação ao ladrão na cruz (Lucas 23:42-43). Jesus leu o coração do criminoso e viu a sua fé. O batismo (assim como a obediência e as boas obras) é a evidência de uma vida entregue a Cristo — não o mecanismo que nos salva.
Legalismo versus obediência amorosa
Mencionamos anteriormente que o legalismo é diferente da obediência amorosa às leis e instruções de Deus. Ao contrário do legalismo, a verdadeira obediência não surge do pensamento de que a lei tem poder para salvar. Um verdadeiro desejo de obedecer a Deus resulta de uma vida entregue a Cristo, compreendendo que o que Ele nos pede tem um propósito mais elevado e promove o amor ao próximo.
No Salmo 119:97, Davi diz: “Oh, como eu amo a Tua lei! É a minha meditação todo o dia” (ARC).
Vamos analisar um exemplo individual que poderíamos ver nos tempos modernos:
Vamos dizer que Jesus chama alguém para fora de um padrão de hábitos destrutivos. Essa pessoa provavelmente reconhecerá que obedecer à lei de Deus traz mais paz, alegria e proteção. É muito parecido com uma criança que mais tarde percebe que a regra “não toque no fogão” na verdade é para sua proteção. Ou uma ovelha que reconhece que os limites do pastor a protegem de um lobo voraz (1 Pedro 5:8).
Esse tipo de obediência à lei envolve o desejo de se alinhar com o caráter de Cristo.
Mas em comunidades grandes, seja baseadas na fé ou não, o legalismo pode surgir involuntariamente porque temos uma tendência humana de querer controlar ou categorizar as coisas.
Portanto, apenas porque o legalismo aparece em algum lugar não significa que toda a comunidade, causa ou empresa seja ruim. Mas isso significa que algum reajuste espiritual é necessário.
Se houver dúvidas sobre os motivos, sempre podemos perguntar aos indivíduos e líderes por que observar a lei de Deus é importante para eles. E podemos pedir ao Espírito Santo para abrir nossos olhos (Efésios 1:17-18).
Igrejas sem lei: O extremo oposto do legalismo

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O oposto do legalismo – a lei da iniquidade – é tão perigoso quanto (1 João 3:4, 8-10). Em sua definição mais pura, é o desrespeito total pela lei, em favor do que quer que uma pessoa considere adequado de sua perspectiva.
A Bíblia diz que a lei de Deus reflete quem Ele é, então o Seu povo não a abandonará (Mateus 5:17-18, Apocalipse 12:17, Isaías 42:21).
Um exemplo de lei da iniquidade poderia envolver a observância (ou fixação) de alguns dos Dez Mandamentos enquanto se descarta outros. Ou poderia significar abandoná-los completamente.
A Bíblia adverte: “Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus.” (Mateus 5:19, ACF). E isso acontece porque todas as leis de Deus têm o propósito de promover amor, alegria, paz, paciência, bondade, etc.
Outra forma de falta de lei pode existir na teoria do “uma vez salvo, sempre salvo”, que afirma que se alguém aceita a salvação uma vez, não pode perdê-la. Isso torna as leis bíblicas e a obediência sem sentido.
Mas, assim como no casamento, o verdadeiro compromisso leva a um relacionamento contínuo e entrega constante a Cristo (Efésios 5:31-33).
Pense sobre isso. Se um casal se casa e pensa: “Bem, uma vez casado, sempre casado, não importa como eu trate meu cônjuge”… você pode ver como isso não é bom! E se fosse o caso, você poderia até pensar, então qual foi o objetivo de se casar em primeiro lugar?
É por isso que as leis de Deus promovem equilíbrio em vez de um dos extremos.
Agora que temos dicas para reconhecer o legalismo (e a falta de lei), vamos resumir o que causa o legalismo.
Por que o legalismo acontece
O legalismo acontece porque, como seres humanos, descobrimos que é necessário um esforço contínuo para avaliar cada decisão à luz de alguns princípios básicos subjacentes. Temos a tendência de querer nossas decisões em preto e branco. E historicamente temos lutado com áreas cinzentas.
Assim, podemos fazer listas espirituais de afazeres em vez de confiar em um Criador invisível para nos guiar. E ao fazer isso, podemos facilmente começar a adicionar às Suas leis — para torná-las mais fáceis de serem acompanhadas em forma de lista de verificação.
Mas tornamos rígidas coisas que Deus deixou abertas à interpretação e escolha cheias do Espírito Santo. E esquecemos os princípios originais das leis.
Tem sido uma luta para pessoas, comunidades e países ao longo da história.
Por exemplo, os colonos fundaram os Estados Unidos com base na liberdade de adorar a Deus. Mas esses mesmos colonos em busca de liberdade logo tentaram impor religiões dentro de suas comunidades.6
A livre escolha deixa áreas cinzentas com as quais nem sempre nos sentimos confortáveis. Ou talvez simplesmente não exista uma ou duas soluções que funcionem em todas as situações.
Então tentamos preencher as lacunas. Os colonos esqueceram todo o seu propósito de estabelecer o “Novo Mundo”. E às vezes esquecemos a razão pela qual Deus estabeleceu Sua lei.
Também tendemos a nos tornar mais legalistas em relação às tradições e leis que todos podem ver.
Por exemplo, é mais fácil mostrar que colocamos dinheiro no dízimo e nos ajoelhamos para orar toda semana. Mas é mais difícil mostrar que não cobiçamos. Assim, fixamo-nos nos esforços concretos e visíveis. E então esquecemos que tudo isso é uma representação das leis maiores baseadas no amor.
Atos de legalismo podem parecer tornar a vida mais fácil ou dar um bom exemplo. Mas na verdade complicam o que Jesus veio simplificar para nós (Gálatas 1:6-9).
Por isso, queremos fazer o que pudermos para evitar que essas tendências humanas afetem nossas crenças, relacionamentos e comunidades.
Como evitar o legalismo

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A melhor maneira de evitar o legalismo é aceitar a graça de Jesus e ter um relacionamento pessoal com Ele. A justiça se resume em ter fé no Legislador, não nas leis em si mesmas (Romanos 1:17). E um relacionamento com nosso Salvador faz crescer nossa fé.
Paulo usa a história de Abraão para nos explicar isso:
“E não duvidou da promessa de Deus por incredulidade, mas foi fortificado na fé, dando glória a Deus, e estando certíssimo de que o que ele tinha prometido também era poderoso para o fazer. Assim isso lhe foi também imputado como justiça. Ora, não só por causa dele está escrito, que lhe fosse tomado em conta, mas também por nós, a quem será tomado em conta, os que cremos naquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus nosso Senhor; O qual por nossos pecados foi entregue, e ressuscitou para nossa justificação.” (Romanos 4:20-25, ACF).
Podemos acreditar na promessa de Deus de nos salvar por causa do que Ele já fez através de Jesus Cristo (João 3:16). E à medida que confiamos Nele, nossa fé continuará a crescer (Gálatas 5:6).
Parece simples. Mas, como aprendemos, é tentador para nós, como seres humanos, nos tranquilizarmos cobrindo todas as bases.
O verdadeiro amor por Jesus não deixa espaço para o legalismo (1 João 4:13-21). À medida que O conhecemos, aprendemos que Deus é amor e não há mais nada que possamos fazer para que Ele nos ame mais. Somos os “filhos amados” de Deus (Efésios 5:1, ACF). Quando compreendemos isso, desejaremos obedecê-Lo porque O amamos e confiamos Nele.
É aí que entra a fé ativa.
Evitar o legalismo não significa que deixemos de tentar obedecer e fazer o bem. Com o legalismo, tentamos fazer boas obras, mas o coração não está nisso. Quando aceitamos a graça de Deus, o nosso velho eu desaparece. E começamos a nos tornar mais parecidos com Jesus (Efésios 4:22-24, Romanos 6:1-7, Gálatas 6:15).
Aqui está o que acontece:
“E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu Espírito, e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juízos, e os observeis.” (Ezequiel 36:26-27, ACF).
Isso significa que ainda guardamos as leis de Deus, mas por fé, não por medo. E com a ajuda do Espírito Santo.
Boas obras feitas por amor atrairão outros para seu Criador (Romanos 7:4-6). Pense em todas as boas obras que Jesus fez quando Ele viveu na Terra. Não foi porque Ele precisava ganhar o favor de Seu Pai, mas para mostrar o caráter amoroso de Deus para a humanidade.
Ao assumirmos esse mesmo caráter amoroso, não podemos deixar de servir, amar e obedecer da mesma forma que Jesus fez (Gálatas 5:13-14). E boas obras feitas no espírito certo dão às pessoas um vislumbre de quem Jesus é (Mateus 5:16, João 3:21).
Novamente, a melhor maneira de evitar o legalismo é passar tempo regular com Deus. E algumas maneiras de começar isso é através de uma combinação de:
- Estudo da Bíblia
- Conversar com Deus através da oração
- Participar de uma comunidade da igreja cheia do Espírito Santo
- Pedir a Deus para ajudá-lo a confiar Nele e em Suas promessas
- Devoções diárias (ler a Palavra de Deus juntamente com oração e reflexão)
- Construir confiança em Deus ao recorrer a Ele em cada situação (Salmos 34:8)
Legalismo é uma visão distorcida da salvação, autoestima e até mesmo de Deus. Demonstra uma crença de que Deus não é o Deus compassivo, amoroso e perdoador que Ele afirma ser.
Aprendemos que isso pode surgir de tendências de nossa natureza humana caída aliadas a uma falta de conexão pessoal com Cristo (João 15). E quando prevalece, o legalismo trata a obediência, regras e boas obras como o caminho para obter a salvação no futuro, e o valor como ser humano no presente. E deixa o amor de fora da lei e tenta fazer dos humanos os heróis em vez de nosso Salvador.
Mas aqui está a boa notícia!
Compreender os perigos do legalismo nos mostra que o verdadeiro Evangelho não é complexo. Deve ser simples e acessível a todos!
A salvação já é nossa pela graça – não é algo que merecemos. Isso significa que não precisamos deixar o medo governar nossas decisões. Podemos vir como somos a Jesus, cujo “jugo é suave” e “carga é leve” (Mateus 11:30,ACF), e Ele será “o autor e consumador da nossa fé” (Hebreus 12:2, ACF).
Quer aprender mais sobre como funciona a salvação?
- “Meaning of Legalism in English.” Cambridge Dictionary. Cambridge University Press and Assessment. [↵]
- Yinger, Kent. “Defining Legalism.” Andrews University Seminary Studies Vol. 46, no. No. 1 (2008): 93. [↵]
- Dominguez, Nicole. “Legalism Vs. Grace.” ANN English. Adventist News Network, July 3, 2021. [↵]
- Maxon, Benjamin C. “The Wonder of Grace.” Stewardship Ministries. General Conference of Seventh-day Adventists, January-March 2000. [↵]
- Professor of Systematic Theology, Andrews University C. “The Law in Adventist Theology and Christian Experience.” Ministry International Journal for Pastors. General Conference Corporation of Seventh-day Adventists. [↵]
- Facing History & Ourselves, “Religion in Colonial America: Trends, Regulations, and Beliefs”, last updated March 14, 2016. [↵]
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Tudo sobre as Antigas e Novas Alianças na Bíblia
Quando Deus prometeu um Messias a Adão e Eva, Ele estabeleceu uma aliança eterna que se estende até nós. Isto inclui tanto a antiga como a nova aliança.


